Páginas

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Muro de Berlim: o socialismo não caiu!

Já faz 20 anos que o mundo assistiu ao fim das ditaduras do leste europeu com a queda do famigerado Muro de Berlim. Em 9 de novembro de 1989, Berlim ocidental se une a Berlim oriental marcando, assim, o processo que resultaria no fim da União Soviética e da Guerra Fria, o que abriria caminho para um período marcado pela hegemonia irrestrita do Capital (no plano econômico) e dos Estados Unidos (no campo político).

Desde então, diversos setores da burguesia e da direita em geral têm construído a idéia do “fim da história”, argumentando que a única e última via para a humanidade seria a economia de mercado, ou seja, o capitalismo. Esta idéia tem atingido inclusive inúmeros setores da esquerda, os quais optaram pela via reformista do Estado burguês, aceitando os ataques proferidos pelos setores reacionários e comungando com estes setores a idéia da falência de um dito “socialismo real”. Porém, as experiências do leste europeu e da União Soviética não podem ser consideradas como experiências socialistas. O que existiu nesses países foi, sim, uma enorme centralização de um Estado extremamente burocrático que resultou, no campo político, em uma ditadura e, no campo econômico, em uma estrutura produtiva que não atendia aos interesses dos trabalhadores, fazendo do Estado um novo patrão.


A estrutura econômica, que oprimia ao invés de libertar, e a dureza do regime político produziram movimentações sociais reivindicando mais liberdades e mais abertura política. Porém, devido ao caráter da ditadura soviética, estas movimentações resultaram num regresso a uma economia de mercado, o que gerou realidades jamais sofridas pelos que viviam sob os regimes stalinistas.


Desemprego, falta de seguridade social, favelas, ausência de hospitais e escolas públicas, super exploração e precarização do trabalho, miséria e fome foram algumas destas realidades que passaram a fazer parte da antiga União Soviética e demais países do leste europeu. Só na Alemanha Oriental, os índices de desemprego atingiram 30% com o retrocesso para a economia de mercado.


É preciso deixar claro que o socialismo não implica em um regime autoritário e centralizador, baseado na dominação do Estado sobre todas as realidades da vida humana. O socialismo é, em primeiro lugar, um regime que visa a emancipação dos trabalhadores, fazendo com que esta classe se apodere do controle da economia e da sociedade, produzindo os bens de acordo com as necessidades humanas e não de acordo com a lógica do mercado. Isto não ocorreu nos antigos regimes ditos socialistas do leste europeu, pois os trabalhadores não decidiam sobre os rumos da economia e nem produziam de acordo com as necessidades da população. Apesar de inúmeros avanços que existiram sob aqueles regimes socialistas, como a universalização de direitos sociais e a conquista de melhores condições de vida e trabalho para os trabalhadores, não foi possível caminhar rumo a um socialismo autêntico devido à elite burocrática que se formou.


Contudo, a história não acabou, como tentam afirmar os defensores dos ideais burgueses. O Muro de Berlim caiu, mas a necessidade da construção do socialismo nunca foi tão necessária quanto possível. Prova disso são os inúmeros governos progressistas e de esquerda na América Latina, além da histórica resistência de Cuba no cenário internacional. Os trabalhadores precisam entender de vez que já é impossível vivermos sob os marcos do capitalismo, pois este gera apenas miséria, exploração, exclusão e violência para sustentar o lucro dos grandes proprietários e empresários. Só no último ano, o número de famintos aumentou em mais de 100 milhões, fazendo com que a fome castigue mais de 1 bilhão de pessoas pelo mundo, não sendo esse número maior devido a herança dos regimes ditos socialistas, como o regime chinês.


O socialismo é obra dos próprios trabalhadores, caso contrário não é socialismo. Esta é a lição que podemos tirar da queda do Muro de Berlim. Não podemos nos eximir da luta contra o capitalismo, pois ele é a fonte de toda injustiça e exclusão social, sendo alimentado pela necessidade gananciosa da burguesia por lucros que são obtidos através da apropriação daquilo que é produzido pelos trabalhadores. Portanto, não podemos perder a esperança nem caminhar para propostas reformistas e social-democratas que não apostam na transformação radical de nossa sociedade rumo ao socialismo. Como nos ensina Frei Betto: "O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana."



Por Tobias Gasprini